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Cinema no DF pede beijo gay como prova de namoro para dar desconto na Noite do Casal

Por Jéssica Nascimento

Foto: Michael Nascimento/Arquivo Pessoal

Michael Nascimento diz ter sofrido preconceito em cinema.

Um vigilante do Distrito Federal diz ter sido vítima de homofobia ao apresentar um primo como namorado para ganhar desconto na entrada de um cinema em Santa Maria nesta terça-feira (13). Funcionários do local teriam pedido para que eles se beijassem na boca para comprovar a relação.

Michael Nascimento, de 31 anos, disse que o primo não é gay, mas que ambos ficaram ofendidos com a discriminação. Às terças-feiras, dia da Noite do Casal, o cinema vende ingressos a R$ 6. O preço normal é R$ 12. Nascimento diz que ele, o primo e um casal de amigos aguardavam na fila quando um funcionário perguntou com quem ele estava fazendo par.

“Eu apontei para o meu primo e disse que ele era meu namorado. O atendente se surpreendeu e perguntou se estávamos de sacanagem. Quando achava que o preconceito não poderia ser pior, ele nos mandou dar um beijo na boca. Eu sou gay e fiquei perplexo com tamanha homofobia”, disse o vigilante.

Indignado com a situação, ele procurou o gerente, que, segundo ele, repetiu o ato do funcionário. “Ele disse que para conseguirmos os ingressos deveríamos dar um beijo na boca. Além do meu primo, estávamos com mais outro casal. Só porque são homem e mulher não precisam provar que estão juntos? Fiquei boquiaberto com o preconceito, pois até crianças estavam entrando nas salas de cinema. A promoção não era exclusiva para casais.”

A irmã de Nascimento, Crisdele Rodrigues, de 20 anos, também estava no cinema. Ela declarou que a situação foi constrangedora e deixou todos tristes e envergonhados. “Já fomos outras vezes no cinema em dias de promoção e nunca tinha acontecido algo parecido. A fila estava enorme, a praça de alimentação lotada. Todos ouviram e ficaram nos olhando. Não tem nada no site informando que a noite do casal deve ser exclusivo de homem e mulher. Semana que vem vou lá de novo e dizer que namoro minha irmã. Quero ver fazerem alguma coisa”.

Foto: Michael Nascimento/Arquivo Pessoal

Ingressos para filme em cinema do Distrito Federal.

Depois da confusão, o cinema acabou liberando a entrada do vigilante e do primo dele com o desconto nos ingressos. Eles assistiram ao filme “Perdido em Marte”. Nascimento disse que, apesar do constrangimento, não tem intenção de registrar boletim de ocorrência na polícia.

Danos morais
O especialista em direito do consumidor Rafael Rodrigues explica que a conduta do cinema pode ser considera ilegal e abusiva. Segundo ele, Nascimento tem o direito de ingressar com uma ação judicial exigindo pagamento de indenização por dano moral.

“Faltou bom senso aos funcionários. Eles deveriam ter cautela e arrumado uma outra forma de provarem que os envolvidos não eram um casal, já que a promoção era exclusiva para namorados. Além disso, o cinema também pode responder por homofobia, que é considerado crime.”

A redação tentou contato com o cinema em várias oportunidades na manhã desta quarta, mas ninguém atendia na empresa.

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