Analisando fotografias, inteligência artificial detecta se uma pessoa é gay ou lésbica
Estudo levanta debate sobre privacidade e ética no uso da tecnologia e afirma que orientação sexual não é uma escolha.
Os cientistas alimentaram uma rede neural profunda com 35.326 imagens faciais e, a partir delas, a máquina foi capaz de distinguir tanto traços físicos, como o formato do nariz, e o gestual de lésbicas, gays e heterossexuais. As fotografias foram retiradas de um site de relacionamentos público. Os resultados levantam questões sobre as origens biológicas da orientação sexual, a ética das tecnologias de reconhecimento facial e o potencial da inteligência artificial em violar a privacidade das pessoas.
“Os resultados avançam nosso entendimento sobre as origens da orientação sexual e os limites da percepção humana. Além disso, dado que companhias e governos estão cada vez mais usando algoritmos de visão computadorizada para detectar questões íntimas das pessoas, nosso estudo expõe uma ameaça à privacidade e segurança de homens e mulheres lésbicas e gays”, dizem os pesquisadores.
A pesquisa identificou que, além do gestual e da apresentação, algumas características físicas indicam maior tendência para a lésbicas e gays. Entre os homens, por exemplo, os gays possuem mandíbulas mais estreitas, narizes mais longos e frontes maiores que os homens heterossexuais. Entre as mulheres, mandíbulas maiores e frontes menores sinalizam se tratar de uma lésbica.
Os pesquisadores sugerem que os resultados fornecem “forte apoio” à teoria de que a orientação sexual decorre da exposição do feto a certos hormônios antes do nascimento, que as pessoas nascem com sua orientação sexual, não é uma escolha.
E as implicações para a privacidade são alarmantes. Redes sociais e bancos de dados de governos possuem bilhões de imagens faciais, e essas informações podem ser usadas para detectar a orientação sexual das pessoas sem consentimento. Adolescentes, por exemplo, podem usar a tecnologia para analisar imagens de colegas, mas o mais alarmante é que governos que perseguem a população LGBT podem usar a análise de imagens para identificar seus alvos.
— É certamente inquietante. Como qualquer ferramenta nova, se ela parar nas mãos erradas, pode ser usada para propósitos ruins — disse Nick Rule, professor de psicologia da Universidade de Toronto, em entrevista ao “Guardian”. — Se você começa a perfilar pessoas com base na aparência, depois as identifica e faz coisas horríveis contra elas, isso é realmente ruim.
— O que os autores fizeram aqui foi uma declaração forte de quão poderosa essa tecnologia pode ser. Agora nós sabemos que precisamos de proteções — comentou Rule.