Política

Por que devemos pensar em concentrar votos em nossos pares?

2018 é um ano fundamental para a população LGBTQI+.

2018 é um ano fundamental para a população LGBTQI+ e para outros eixos vulneráveis que compõe essas disparidades de classes. É, portanto, um ano decisivo que exige muita responsabilidade na hora de registrar os nossos votos e, também, de muita complexidade se observarmos toda a conjuntura política brasileira. Mas e daí, o porquê precisamos se organizar e ter muito cuidado na hora de concentrar nossos votos?

“Como todos sabem e mesmo que nada saibam”, como diz a filósofa trans Luiza Coppieters, a política institucional no Brasil, historicamente, sempre foi uma plataforma que serviu – e ainda serve – para atender aos privilégios de pequenos grupos econômicos. Portanto, pensar nessa questão é fazer uma reflexão histórica e identificar quem são os indivíduos que ocupam esses espaços de poder e decisão. Sem esse trabalho de se inclinar para história do país, é impossível encampar esse debate.

Antes de qualquer coisa, me parece desonestidade intelectual não pautarmos essa problemática a partir dos mecanismos que organiza e norteia a lógica estrutural da sociedade brasileira; ter como ponto de partida três eixos que sustenta as engrenagens de privilégio no Estado: raça, classe e gênero, como nos ensinam Angela Davis e outras filósofas que estão discutindo as relações de poder a partir desse critério metodológico interseccional.

Observando que o Brasil foi um país que se fundou tendo como pilar central econômico o uso de trabalho escravo do povo negro que foi sequestrado do continente africano, pode-se dizer, sem medo de errar, que o homem branco-europeu-católico-cristão sempre esteve no topo da pirâmide social, servindo-se, portanto, de seu privilégio de poder para se beneficiar as custas dessas minorias – e aqui cabe ressaltar que minoria é no que se refere a direitos.

Feita essa breve contextualização histórica – e claro, superficial –, pode-se identificar, então, o perfil típico de quem ocupa espaço de poder: homem branco cis, de meia idade, de classe média e heterossexual. Majoritariamente, essa é, basicamente, as características de um representante. Para enxergar melhor isso, basta observar as casas legislativas – das três esferas do Estado – e o histórico de quem ocupou o cargo do executivo no Brasil.

Até hoje, na Câmara dos Deputados, tivemos a presença de dois homens gays assumidos. O primeiro, que foi o Clodovil Hernandes que, inclusive, dava declarações conservadoras acerca de assuntos concernentes à população LGBTI; e o segundo, que está em exercício, é o Jean Willys, que tem encampado as discussões sobre direitos humanos, levantando bandeiras que dizem respeito à diversidade sexual e outros eixos sociais que compõe essa camada social vulnerável. É claro que a presença do primeiro foi importante no quesito de representatividade, mas de maneira simbólica apenas.

São por essas e outras razões que a comunidade LGBTQI+ deve pensar em estratégias e, assim, concentrar votos em seus pares. O Brasil precisa de uma frente política que dialogue com toda a população. Sendo assim, é justamente por isso que todos têm muita responsabilidade na hora de ir às urnas e eleger os seus representantes. E isso serve para todos os outros setores da sociedade que não estão sendo bem representados nas tomadas de decisão.

“Vivemos um momento histórico muito perverso, em que a democracia vem se tornando alvo para que se possa implementar políticas muito danosas à sociedade em geral e às pessoas LGBTQI+ em particular, na medida em que são um dos alvos preferenciais da violência conservadora e reacionária. Para além da mobilização, é mais do que necessária a organização da população LGBTQI+ para que consiga enfrentar o desmonte do SUS, a destruição dos parcos direitos duramente conquistados, passando pelo combate à repressão da polícia militar assim como repudiando a intervenção militar. Pensar a organização política é pensar como iremos atuar nas diversas esferas de ação, dentre elas a política institucional. Devemos sim participar da política institucional, até porque todo o processo golpista e de ataque à nação tenta se legitimar com um verniz de legalidade institucional”, afirma a professora de filosofia Luiza Coppieters, que é militante do movimento LGBTQI+, feminista, lésbica, que integra o Conselho Municipal de Políticas LGBT da cidade de São Paulo e é pré-candidata a deputada estadual pelo estado de São Paulo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Esse comentário da professora Luiza traduz a emergência em atender às demandas da população LGBTQI+, que não são levadas para o centro dos debates legislativos. Além disso, mostra exatamente o quão é importante esse setor se organizar e pensar nessas estratégias para encampar as disputas de decisão política e, assim, trabalhar para um novo projeto de Estado que não seja excludente.

Por que devemos pensar em concentrar votos em nossos pares?
Foto: Reprodução/FacebookA professora de filosofia Luiza Coppieters.

“É necessário que as pessoas LGBTQI+, mais do que votar em seus pares, votem em pessoas LGBTQI+ progressistas, que compreendam que se trata de disputas de projetos de país, de sociedade, de nação. Que é necessário, para obter conquistas específicas, comungar com um projeto político avançado, antineoliberal, popular e que atenda às demandas de todas as formas existenciais, que os grupos minorizados tenham suas vozes ouvidas e saiam da condição de vulnerabilidade imposta. E para isso é necessário ocupar as casas legislativas e uma das estratégias é, sem sombra de dúvidas, construir nos estados candidaturas coletivas, populares, progressistas e acolhedoras, que sejam plurais e que representem, de fato, a população LGBTQI+, principalmente travestis e transexuais”, conclui Coppieters.

Por essa razão que os grupos minoritários devem encarar o processo eleitoral como um instrumento de mudança social para que, efetivamente, haja uma ruptura dessa estrutura de poder secular, que tem mantido boa parte da diversidade sexual em condições de subsistência. Não só essa camada, mas como todas as outras que estão na base da pirâmide social sustentando esses privilégios há séculos.

Caso tudo caminhe conforme o que prevê o Estado Democrático de Direito, as eleições estão previstas para o dia 7 de outubro. Serão eleitos pelo povo presidente, governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais.

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