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Amizades bromossexual estão em alta nos EUA; você tem uma?

Do The New York Times

Foto: Andrew White/The New York Times

Ben Moss e seu colega de quarto Lucas Whitehead (dir.) na entrada do prédio onde moram, no Brooklyn, Nova York.

Uma propaganda recente para o programa “”Shahs of Sunset”, do canal de TV americana Bravo, mostra dois de seus protagonistas masculinos relaxando em espreguiçadeiras na praia. Diante de uma cena de banhistas sumariamente vestidos, os melhores amigos Reza Farahan e Mike Shouhed olham para diferentes objetos do desejo: Farahan para homens musculosos, e Shouhed para mulheres curvilíneas.

Seus desejos distintos, que podem ter afastado gays e homens héteros uns dos outros no passado, inspiram o gesto definitivo da conexão fraternal: um “fist bump” (cumprimento com os punhos fechados).

“Mike e eu somos muito parecidos”, diz Farahan. “Ele sempre foi mulherengo, e eu sempre fui pegador. Na propaganda, estamos vivendo um momento, e é o mesmo momento. A única diferença é que estou olhando para os homens e ele, para as mulheres.”

O autor irlandês Jarlath Gregory vê essa ligação como nova para a cultura e familiar para ele. Seu mais novo romance, “The Organised Criminal” (“O criminoso organizado”, em tradução livre), gira em torno de uma amizade fraternal entre um gay e um hétero.

“Esse tipo de relacionamento fácil não seria verossímil para o grande público 10 anos atrás”, diz Gregory, 38, que é gay. “Uma das coisas de que meu editor gostou a respeito do meu livro é que essa amizade era algo que não víamos com muita frequência antes.”

Pelo menos não na cultura pop. É claro, sempre houve amizades entre gays e héteros, mas só recentemente eles passaram a ser representados com mais destaque e naturalidade em séries de TV, filmes, livros e blogs.

Muitas vezes existe em jogo um senso tradicionalmente masculino de familiaridade nessas representações, exalando um sentimento peculiar o suficiente para sugerir um termo próprio: relacionamentos bromossexuais [junção das palavras “bro” (“irmão”) e “homossexual”].

A representação crescente deles contrasta com uma que acabou se tornando um clichê: a conexão entre uma mulher heterossexual e seu melhor amigo gay.

A manifestação mais recente da mídia também dá um salto significativo em relação a uma de suas primeiras versões. De 2003 a 2007, o programa “Queer Eye for the Straight Guy” apresentou homens gays como seres mágicos que funcionavam como ajudantes para homens heterossexuais, orientando-os em matéria de moda e decoração, enquanto mantinham boa parte de suas próprias vidas fora de cena.

Em comparação, a última temporada de “Scream Queens” mostrou o bonitão Nick Jonas como um membro de fraternidade gay que compartilha um interesse em comum pelo golfe com seu irmão de fraternidade e melhor amigo, o heterossexual Chad.

Ajudantes
No documentário lançado recentemente “Strike a Pose”, sobre a trupe de dança de Madonna para a turnê “Blonde Ambition”, a trama mostra a trajetória do bailarino hétero solitário que de homofóbico passa a ser um homem emocionalmente liberado por seus vários amigos LGBT. Outra série, “Manzo’d With Children”, dá destaque para a relação entre os irmãos protagonistas heterossexuais e o melhor amigo gay deles, ex-colega de casa.

E o representante mais conhecido dessa rede, Andy Cohen, que é gay, raramente perde uma oportunidade de brindar sua amizade próxima com o guitarrista e mulherengo John Mayer.

Cohen menciona Mayer nada menos que 14 vezes em seu livro campeão de vendas “The Andy Cohen Diaries.”

Ele também escreveu um artigo para a revista “Entertainment Weekly” no ano passado narrando suas façanhas bromossexuais. Em uma saída, durante o fim de semana da Parada LGBT, eles foram a um show de uma banda derivada de outra que os dois adoram, o Grateful Dead.

Cohen escreveu que um amigo lhe mandou em uma mensagem de texto: “Para celebrar o orgulho gay de um jeito mais hétero do que isso, só transando com uma garota no Super Bowl”. Em outra noite, Cohen e Mayer foram a um bar gay, onde Cohen descobriu que seu amigo hétero era o “companheiro de paqueras perfeito.”

“Homens héteros são muito bons para isso”, diz David Toussaint, cuja compilação de ensaios, “Toussaint!”, contém várias tiradas cômicas sobre identidade sexual. “Se estou andando na rua com um cara jovem e hétero que eu conheço, e ele vê um cara olhando para mim, ele diz ‘Vai fundo!'”

Vin Testa, 26, um professor de matemática de Washington, D.C., que também é um porta-voz da causa LGBT para as escolas públicas da região, diz que as mudanças nas relações entre homens héteros e gays foram tão rápidas que ele vê uma diferença significativa desde que ele terminou o ensino médio. Ele acredita que um dos maiores obstáculos que ele enfrentou ao se assumir era algo comum a muitos homens gays: “o medo intenso de perder as amizades masculinas.”

A principal motivação para Testa se assumir durante a faculdade foi descobrir que eram amigos de seu time de futebol do colegial “quem mais queriam que eu saísse do armário”, ele conta. “Eles estavam realmente preocupados comigo.”

Foto: Andrew White/The New York Times

Ben Moss (esq.) e Lucas Whitehead no telhado do prédio onde moram.

Gregory, o escritor irlandês, acredita que um ponto de conexão para a geração mais jovem é a proliferação da cultura geek. “É tecnologia, filmes de super-heróis, Pokémon Go e até rock indie”, ele diz. “Tudo isso é parte muitas vezes de uma cultura masculina da qual jovens gays também se sentem parte”.

Para homens de uma geração mais antiga, a desconfiança a ser superada é maior. “Nós pensamos tradicionalmente nos relacionamentos entre homens gays e héteros como hostis, até mesmo agressivos”, diz Michael LaSala, 57, autor de “Coming Out, Coming Home: Helping Families Adjust to a Gay or Lesbian Child” (“Saindo do armário, chegando em casa: ajudando as famílias a se adaptarem a um filho homossexual”). “Por esse motivo, os gays tradicionalmente não se sentiam confortáveis nesses relacionamentos.”

LaSala, que é gay, diz que não conseguia se imaginar tendo uma amizade próxima com um hétero quando ele tinha 20 e poucos anos. No entanto, nos últimos anos ele formou uma ligação próxima com Dr. Robert Garfield, 70, um homem heterossexual que escreveu o livro “Quebrando o Código Masculino: Liberando o Poder da Amizade”. Os dois costumam palestrar juntos sobre os efeitos negativos da homofobia sobre homens gays e héteros.

“Minha relação com Michael e outros homens gays é algo maravilhoso para mim”, diz Garfield. “Ela me amplia como ser humano. Existe uma leveza no falar sobre sexo que não ouço de meus amigos héteros.”

Um bálsamo para antigas feridas
“Existe um sentimento de respiro”, diz Odie Lindsey, 45, um escritor de ficção hétero e veterano da Guerra do Golfo, cujo novo livro de contos, “We Come to Our Senses”, contém vários personagens gays. “Com amigos homens héteros, às vezes surge algum assunto que exige uma obrigação particular ao que se espera que os homens devam dizer ou fazer. Isso pode soar intimidante e falso. Não é legal ter de ouvir a um coro de pessoas que se sentem obrigadas a agir da mesma forma.”

LaSala diz que, para os gays, “as amizades com homens héteros podem ser muito curativas. Quando você vive uma amizade próxima com um homem hétero e essa pessoa é muito aberta, isso é um bálsamo para algumas antigas feridas.”

Ao mesmo tempo, existem contrastes grandes nos dois mundos. Os homens gays dizem que é comum que seus amigos héteros fiquem com inveja, ou pelo menos se sintam pressionados, pela eficiência e aparentemente onipresença dos encontros amorosos entre homens.

“Os héteros reclamam: ‘Você pode só conhecer um cara, levar para casa e transar'”, diz Toussaint. “Um cara hétero gato que eu conheço reclama: ‘Com uma garota, preciso levá-la para sair e fazer todo um ritual, quando tudo que eu quero é transar com ela e partir para outra.'”

No que diz respeito a sexo e namoro, os héteros também precisam navegar por complexos desequilíbrios de poder entre gêneros. Os gays conseguem evitar essa ansiedade.

Por outro lado, alguns homens gays dizem ter inveja de certos aspectos da aparência masculina heterossexual. “Homens héteros podem andar relaxados e ninguém se importa”, diz Gregory. “Os gays têm julgado uns aos outros mais do que as mulheres, em termos de preconceito físico.”

Se tais contrastes causam fascinação, outras diferenças podem ser prejudiciais. O clichê e a eterna suspeita de que um gay possa desenvolver uma queda por seu amigo hétero pode derrubar o equilíbrio de poderes e minar a confiança entre eles. “Um gay pode ficar preocupado que um cara pense que ele está dando em cima dele”, diz LaSala. “E o que isso significaria para a relação?”

Os roteiristas de “Scream Queens” exorcizaram essa ansiedade através da sátira em uma cena que viralizou no YouTube. Ela traz o personagem de Jonas tentando levar seu melhor amigo hétero para a cama. “Esse tipo de paixonite parece algo muito antigo”, disse Lucas Whitehead, 29, um hétero que vive em um predinho de tijolos em Fort Greene, bairro povoado por uma mistura rotativa de homens hétero e homossexuais.

Ele relata que em seu meio não há nenhum tipo de desconforto a respeito de se ter amigos ou colegas de casa gays. No entanto, ainda persistem disparidades, algumas delas a respeito de sexo. “Falo com amigos gays sobre o antes, não sobre o depois”, diz Whitehead.

É uma atitude adotada também por um de seus colegas de casa gay, Ben Moss, 25, que diz: “Eu falo com amigos héteros sobre o que gira em torno do sexo, mais do que sobre o que de fato fizemos.”

De acordo com LaSala, muitos homens héteros bem-intencionados podem se sentir constrangidos ao abordar assuntos que eles sabem que não compreendem totalmente. Ele acredita que é importante que os homens héteros reconheçam as diferenças.

Ele compara isso com amizades entre pessoas de raças diferentes. “Alguns de nós que são brancos são acusados com razão de serem ‘cegos para a cor'”, diz LaSala. “Existe um equivalente para homens héteros que poderia ser ‘cego para a cultura’.”

Às vezes existe uma dissonância quando um amigo se vê em um grupo dominado por pessoas de outra orientação, e não em conexões individuais. “Ouvir um bando de homens héteros juntos é como ouvir uma língua estrangeira”, diz Toussaint. “A linguagem é estranhamente impessoal: ‘cara’, ‘breja’, ‘o jogo’. Eles devem se sentir de forma parecida a respeito das coisas sobre as quais conversamos.”

Ao mesmo tempo, muitos homens valorizam as diferenças.

“Fico feliz de viver em torno de pessoas que tenham uma experiência de vida diferente da minha, e fico feliz que elas vivam em torno de mim”, diz Moss. “Uma experiência homogênea em amizades não é boa para ninguém.”

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