Lésbicas

Dupla lésbica de hip-hop combate LGBTfobia com música em Havana

POR MAGDALENA MIS, DA FUNDAÇÃO THOMSON REUTERS, EM LONDRES

De acordo com Odaymara Cuesta, da Krudas Cubensi, uma banda cubana de hip-hop formada por lésbicas, há uma pessoa LGBT em cada família de Cuba.

Mas muita coisa precisa mudar em Cuba antes que seus cidadãos lésbicos, gays, bissexuais, travestis e transexuais possam expor suas verdadeiras identidades sem medo de discriminação, em um país no passado notoriamente hostil a eles, disse Cuesta.

“Cuba é um país muito misógino, e é difícil ser uma pessoa lésbica ou gay aqui”, disse Cuesta à Fundação Thomson Reuters, em entrevista por telefone, de Havana.

Dupla lésbica de hip-hop combate LGBTfobia com música em Havana

Foto: Javier Galeano – 13.ago.2011/Associated Press

A transexual Wendy Iriepa em carro dos anos 50 logo após seu casamento em Havana, em 2011.

“Ainda que a nova geração seja mais aberta e tolerante, precisamos nos educar melhor sobre os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo e os direitos dos LGBT”, ela acrescentou.

Nos primeiros anos da revolução iniciada em 1959, a homossexualidade era vista como contrarrevolucionária, e os líderes socialistas de Cuba enviavam homossexuais a campos de trabalho para reeducação.

Mas os direitos LGBT fizeram grandes avanços no país nos últimos anos. Em 2010, o ex-presidente Fidel Castro disse lamentar a discriminação sofrida por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais cubanos depois de sua revolução, afirmando que ela foi “uma grande injustiça”.

Sua sobrinha Mariela Castro, filha de Raúl Castro, esteve na vanguarda da luta pelos direitos LGBT e no ano passado liderou ativistas em um casamento em massa simbólico, para promover a aceitação dos cubanos LGBT.

Em 2014, a Assembleia Nacional cubana aprovou uma lei trabalhista que proíbe a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero, e cirurgias gratuitas de readequação sexual estão disponíveis desde 2008.

Para Cuesta e Olivia Prendes, do Krudas Cubensi, a música é outra maneira de promover os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

“A música é uma ferramenta muito importante para educar o nosso povo e informá-los sobre quem somos e o que fazemos”, disse Prendes. “Por meio da música, lutamos pelos nossos direitos”.

Dupla lésbica de hip-hop combate LGBTfobia com música em Havana

Foto: Desmond Boylan – 11.mai.2013/Reuters

Mariela Castro, filha de Raúl Castro, em marcha contra a homofobia em Havana, em 2013.

Prendes disse que quando a banda lançou seu primeiro álbum, em 2003, a comunidade do hip-hop em Cuba ficou chocada, porque era a primeira vez que alguém falava de lésbicas ou de feminismo.

“A comunidade do hip-hop é em geral heterossexual e se concentra em questões sociais”, ela disse. “Os héteros de Cuba não compreendem que pessoas como nós existem”.

Prendes admitiu que, para ela e Cuesta, que agora dividem seu tempo entre Cuba e os Estados Unidos, a fama tornou menos ruim ser LGBT.

“A maioria das pessoas nos conhecem, nos admiram e sentem curiosidade sobre quem somos”, ela disse.

Mas, nas cidades menores e no campo, os cubanos que se identificam como LGBTs não tratam abertamente de sua sexualidade, disse Prendes.

“Não é fácil ser abertamente homossexual, e muitas pessoas vivem no armário”, ela disse. “A realidade privou nosso pessoal do orgulho e da liberação sexual. O discurso do ódio é onipresente”.

Prendes disse esperar que mais amantes da música cubanos mudem suas atitudes para com os LGBT por ouvirem a música de sua banda.

“Continuamos a lutar por nossos direitos, ainda estamos lutando pela igualdade no casamento, pelos direitos iguais para os LGBT”, ela disse.

Na América Latina, a Argentina e o Uruguai legalizaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e o mesmo se aplica à Cidade do México, mas em Cuba o casamento igualitário continua a ser um objetivo distante.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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