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Curso na Federal de Goiás prepara travestis e transexuais para o Enem

Por Sílvio Túlio

Curso na Federal de Goiás prepara travestis e transexuais para o Enem

Foto: Sílvio Túlio

Curso exclusivo prepara travestis e transexuais para o Enem.

Um grupo de estudantes de Goiânia criou um cursinho preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) exclusivo para travestis e transexuais. O “Prepara Trans” foi desenvolvido com o intuito de garantir acesso à educação sem que os alunos enfrentem situações de preconceito e violência. As aulas são gratuitas e ministradas por universitários ou recém-formados, ambos de forma voluntária.

O curso é realizado de segunda a sexta-feira à noite, em uma sala da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), que apoia o projeto. Atualmente, 15 alunos estão regularmente matriculados. No entanto, novas inscrições podem ser feitas no perfil do Prepara Trans no Facebook.

Estudante do 6º período de física, Vinícius Santos de Almeida, de 20 anos, é um dos professores. Ele, que dá aula de matemática, conta que participou da criação da ideia, que começou a tomar forma em outubro do ano passado, durante o Encontro Nacional em Universidade sobre Diversidade Sexual e de Gênero (Enudsg), que ocorreu na capital goiana.

“Eu fiz parte da comissão organizadora do evento e sobrou uma quantia que poderíamos utilizar em algo para melhorar a vida dessas pessoas. Então pensamos em criar o curso. Com essa verba, também conseguimos bancar todo o material didático dos alunos e docentes”, disse.

A aula inaugural ocorreu no dia 25 de abril deste ano. Nas três primeiras semanas, a sala ficava sempre cheia. Porém, com o decorrer do tempo, o número foi baixando. Atualmente, por dia, entre cinco e 10 pessoas frequentam o preparatório.

Para Vinícius, é fácil explicar essa evasão. “Para essas pessoas, pegar um ônibus e vir para cá é complicado porque eles têm ‘dificuldade em existir’. No caminho, eles podem ser violentados física ou psicologicamente. Por isso, desistem”, salienta.

Curso na Federal de Goiás prepara travestis e transexuais para o Enem

Foto: Sílvio Túlio

Hades (à esq.) recebe instruções do professor Vinícius: ‘Além do conteúdo’.

‘Ocupar espaços’
A cada dia da semana, as aulas são relacionadas com os eixos do Enem: Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Linguagem e Códigos, Matemática e Redação. No entanto, a forma como o conteúdo é repassado sofre uma diferença para tentar alcançar o verdadeiro objetivo.

“Trabalhamos com educação popular, que vai além do conteúdo. É uma aprendizagem para a vida das pessoas. Às vezes, mostramos problemas das realidades que elas vivem para exemplificar. Queremos ocupar os espaços. É quase impossível ver um médico ou o prefeito de uma cidade ser transexual”, afirma Vinícius.

É com essa perspectiva que Hades Moura Menezes, de 18 anos, começou a frequentar as aulas. Ele não terminou o ensino médio justamente por ser alvo de preconceito na escola.

Agora, ele se prepara e quer usar a nota do Enem tanto para terminar os estudos como buscar uma vaga no ensino superior em filosofia. Para o jovem, estar em um ambiente onde se sente aceito faz toda diferença no aprendizado.

“No ensino médio, não sei porque não gostavam de mim. Eu era o único isolado da sala, não tinha amigos, era muito estranho. Aqui é muito melhor, me sinto mais interado com a aula e com a didática. Livre para questionar. Os transexuais ainda tem um histórico de perseguição e preconceito muito grande”, lamenta.

Curso na Federal de Goiás prepara travestis e transexuais para o Enem

Foto: Sílvio Túlio

Hades faz o curso de olho em uma vaga para estudar filosofia, em Goiás.

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