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Vítimas de homofobia, jovens torturados em shopping de Belém fazem exames no IML

Do Gay1, com informações da Rede Liberal
Vítimas de homofobia, jovens torturados em shopping de Belém fazem exames no IML

Os dois jovens vítimas de tortura, racismo e homofobia dentro das dependências de um shopping de Belém foram até o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves (CPC) na manhã desta quinta-feira (3), onde realizam exames de corpo de delito. De acordo com a assessoria do CPC, o laudo pericial deve ser concluído em até 10 dias úteis e encaminhado à delegacia responsável pelo caso.

As investigações ainda estão no início, mas os responsáveis podem ser indiciados por lesão corporal e injúria homofóbica. “Nós fizemos o boletim de ocorrência, encaminhamos as vítimas para o exame de lesão corporal e estamos aguardando para que elas compareçam para prestar depoimentos. Os funcionários também serão convocados e ouvidos para que nós possamos individualizar as condutas de cada um”, disse Rosângela Gouveia, delegada da Divisão de Combate a Crimes Discriminatórios.

Segundo a assessoria da Polícia Civil, a previsão é que Fanny Castro, 18 anos, e Sidivaldo Ferreira, 20, voltem à Delegacia de Crimes Discriminatórios, onde o caso foi registrado, para dar continuidade aos depoimentos.

O caso
Os jovens registraram, nesta quarta-feira (2), denúncia de tortura, racismo e homofobia sofridos no Parque Shopping, localizado na avenida Augusto Montenegro, em Belém. Fanny Castro, 18 anos, e Sidivaldo Ferreira, 20, aparecem em vídeos sendo agredidos a chineladas. As imagens teriam sido gravadas por seguranças de uma loja, e foram publicadas na internet. Procurado, o Parque Shopping informou que todos os funcionários envolvidos no caso serão demitidos.

O caso ocorreu por volta de 12h, do último sábado (28). Segundo as vítimas, eles estavam nas Lojas Americanas quando foram abordados por seguranças, e acusados de furtar um protetor solar, o que a dupla nega ter cometido.

Violência gravada
Os vídeos que circulam pela internet mostram os jovens sendo agredidos a chineladas, que atingiram as mãos. Foram ao menos 30. Os jovens aparecem gritando, pedindo para que o segurança parasse a agressão. Ao menos três pessoas estavam na sala, além dos dois estudantes, e o autor das gravações das imagens, que filmava com celular. As sessões de agressão teriam durado cerca de uma hora.

Segundo o boletim de ocorrência registrado no Departamento de Operações Especiais da Polícia Civil (DIOE), além das chineladas, os seguranças teriam desferido socos, pontapés e dado choques elétricos na dupla.

Homofobia
“Isso foi homofobia, até porque ele falou que eu era menino, que iam cortar o meu cabelo e eu sairia de lá menino, careca. Diziam que lá eles não gostam de homossexuais, que quando roubam, eles dão mesmo porrada. Mas a gente não estava roubando, é isso que dá revolta”, diz Fanny de Castro, que é transsexual.

“Pensei que ali eu iria morrer, que ali mesmo eu iria ficar. Bateram muito na gente. Foi um momento de pânico, de terror dentro daquela sala, pegando choque, pegando porrada, de humilhação dentro do shopping. Ainda sinto dores na minha perna dos chutes que levei, estou mancando, e dos choques que tomei no maxilar, que doem principalmente na hora de dormir. Não me senti dentro de um shopping, mas dentro de uma sala de tortura. Fizeram de tudo e mais um pouco”, relata Fanny.

Para Richard Callefa, ativista LGBT, o caso reflete ainda outros crimes, já que Fanny, transsexual, e Sidivaldo, homossexual, teriam sido discriminados por sua orientação sexual e racial. “O que motivou a abordagem foi isso: dois jovens pobres, negros, LGBTs. Eles fizeram juízo de valor medíocre que os jovens não poderiam comprar e pegaram eles. Os seguranças pegaram um protetor solar, colocaram numa sacola e levaram para dentro da sala, pra justificar a abordagem. Eles foram xingados, socados, levaram choque, jogaram água gelada e davam choque neles. Pegaram a sandália do Sidivaldo e deram na mão e na cara. Eles levaram socos, chutes e pontapés. Pegaram uma sacola e colocaram na cabeça deles. Os seguranças disseram que iam fazer a tortura e iam sair ilesos. Isso sugere que alguém acima deles endossa essa conduta. Quantas outras pessoas mais não foram violentadas e agredidas lá dentro?”, critica.

Em nota, a administração do Parque Shopping Belém informou que tomou conhecimento, apurou os fatos e suas circunstâncias e, por não aprovar e repudiar quaisquer atos de violência em suas dependências, sobretudo por parte de seus colaboradores, “está tomando as devidas providências cabíveis, o que inclui a demissão de todos os envolvidos, e do agressor, por justa causa”.

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