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Após polêmica e incêndio, casal lésbico é aplaudido em união coletiva no RS

Por Estêvão Pires

Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS

Casal de lésbicas trocaram alianças e se beijaram em casamento coletivo.

Vinte e oito casais – sendo um formado por duas mulheres – trocam alianças e oficializam a união na tarde deste sábado (13) no Fórum de Santana do Livramento, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Após polêmica gerada depois que o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) que abrigaria a cerimônia pegou fogo, o evento tem as presenças de autoridades como a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti.

Ao som da marcha nupcial, o casal Solange Rodrigues e Sabriny Benites entrou por último no salão do júri e foi aplaudido de pé pelos convidados presentes. As mulheres não falaram com a imprensa na chegada ao fórum. Discretas, as duas entraram no prédio pela porta dos fundos.

“Por que essa cerimônia causa tanto incômodo ao tradicionalismo?”, questionou a juíza Carine Labres em discurso, no início da celebração. “Qual a razão de tanta intolerância?”, indagou.

Foto: Estêvão Pires

Casal lésbico foi o último a entrar no local do evento.

O discurso seguiu com a palavra da secretária da Justiça e dos Direitos Humanos do estado, Juçaria Vieira. “Quero saudar as meninas. Porque valentia é uma coisa. Coragem é outra. Estão orgulhando todos os casais que estão celebrando a sua vontade. Esse casamento coletivo tem um grande significado para a vida de vocês. Vocês são testemunhas de uma história que precisa mudar”, afirmou.

Ao defender a criminalização da homofobia, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, também falou aos noivos e noivas. “Essa solenidade que é uma solenidade de amor. O que ocorreu aqui acabou trazendo tantas autoridades e imprensa e servirá para o debate nacional sobre a importância de se respeitar na sociedade brasileira, pelo que se é, dando-lhe todos os direitos e oportunidades. Tem um trecho de uma música que eu costumo lembrar, diz muito do que estamos fazendo aqui hoje: qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amar valerá. O amor é que vale. Exatamente por isso tem que ser respeitado”, destacou.

A mesma observação pautou a fala do presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, José Aquino Flôres de Camargo. “Estamos aqui celebrando a vida e o amor. A polêmica surgiu porque um deles era homoafetivo e, portanto, diferente, aos olhos de muitos. Vivemos em uma sociedade permeada por inúmeras desigualdades. Raciais, sociais, econômicas, setoriais, que provocam injustiças. Não é sem razão que o judiciário tem sido demandado para se desfazer dessas desigualdades. O papel do judiciário nesse contexto é de promoção da pacificação social”, explanou. “Estamos aqui presenciando pessoas simples e humildes celebrando um passo importante. O símbolo do amor aqui é o acolhimento”, concluiu.

O ambiente, decorado com as cores da bandeira do Rio Grande do Sul e do movimento LGBT, foi a opção da magistrada, que propôs inicialmente que o matrimônio coletivo fosse realizado no CTG Sentinelas do Planalto na cidade. O galpão, porém, foi alvo de um incêndio criminoso na madrugada de quinta (11). Apesar do mutirão proposto para reconstruir o espaço, não houve condições e nem tempo suficiente para concluir os trabalhos.

Com entrada restrita e policiamento reforçado ao redor do prédio, a juíza celebrou o casamento vestida de prenda. “É para reforçar o combate à homofobia no tradicionalismo. Foi um sacrifício. Será um grande evento diante de casais que não se acovardaram. Não vamos nos calar. Os diretos das minorias estão garantidos”, disse ela antes da celebração.

No interior do prédio, familiares dos casais, a maioria de baixa renda, relataram orgulho diante da confirmação do casamento.

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