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Polícia de SP diz que diário do jovem Kaique tinha mensagem de despedida

Do Gay1 SP, com informações do JN

Foto: Cris Faga/Fox Press Photo/Estadão Conteúdo

Protesto no Largo do Arouche após morte do jovem Kaique.

A polícia de São Paulo informou nesta sexta-feira (17) que o diário do adolescente encontrado morto embaixo de um viaduto no Centro, no último fim de semana, tem mensagens de despedida, informou o Jornal Nacional, TV Globo. Parentes e amigos não acreditam em suicídio e suspeitam que o jovem tenha sido vítima de crime de homofobia.

O corpo de Kaique Augusto dos Santos, de 17 anos, foi encontrado neste sábado (11) sob o Viaduto Nove de Julho. Segundo a família, ele estava sem todos os dentes e foi espancado.

Segundo a polícia, o diário estava na casa da família com quem ele estava morando na região do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo. O diário, um bloco de anotações do tipo brochura, contém textos confusos, de acordo com a polícia. Em alguns, ele demonstra animação; em outros, mostra-se decepcionado com algumas pessoas. Em muitos trechos, a letra de Kaique é ilegível.

Em um texto recente, Kaique escreve que tomaria “uma atitude, uma decisão” até segunda-feira (13). A seguir, é possível ler a frase: “Adeus às pessoas que amo”. Depois deste texto, ele escreveu pelo menos outros três no diário, sem fazer referência a uma despedida, segundo a polícia.

Nesta sexta-feira (17), além do depoimento da mãe biológica de Kaique, outras três pessoas com quem o jovem estava morando também foram ouvidas no 3º distrito policial. Uma delas, uma mulher, relatou à polícia que Kaique costumava dizer que ele não passaria dos 30 anos. No mesmo depoimento, ela disse ainda que Kaique costumava se impressionar com notícias de violência e que as recortava dos jornais para mostrar para ela.

A Polícia Civil afirma que sinais aparentes de tortura podem ser resultado da queda do viaduto. A perfuração na perna teria sido causada por uma fratura exposta. Os dentes e os dedos quebrados, além do traumatismo craniano, podem ter ocorrido na queda. A análise preliminar aponta que ele caiu em pé e bateu no meio-fio. O laudo definitivo do Instituto Médico-Legal (IML) deve ficar pronto em até 20 dias.

Kaíque foi a uma festa LGBT em uma boate na região central de São Paulo. Os amigos contam que ele saiu da boate para procurar os documentos que estariam perdidos e sumiu. Na madrugada de sábado, a polícia recolheu o corpo embaixo do viaduto, perto da boate.

O boletim de ocorrência foi feito com base no relato do policial militar que encontrou o corpo do adolescente. O delegado que assinou o boletim de ocorrência o registrou como suicídio.

O estado do corpo do jovem, porém, levou sua família a acreditar que ele foi assassinado. “Arrancaram todos os dentes e espancaram muito a cabeça dele. Ele foi vítima de homofobia. Nós acreditamos nisso. Não tem prova, mas a gente acredita que foi isso”, disse Tainá Uzor, irmã do jovem.

Os parentes da vítima ficaram dois dias procurando o rapaz em hospitais e no Instituto Médico-Legal (IML). Por estar sem documentos, o corpo ficou até terça-feira (14) no IML como indigente.

Manifestação
Manifestantes ligados ao movimento LGBT protestavam na noite desta sexta-feira (17), no Centro de São Paulo, pedindo o esclarecimento da morte do adolescente.

Amigos e militantes se reuniram no Largo do Arouche. Além de homenagear Kaique, pediam o fim da homofobia. Thiago dos Santos Duarte, 21 anos, afirma que esteve com o jovem horas antes de o adolescente ser encontrado morto. Ambos estavam na “Festa dos Pesados”, promovida pelo espaço PZA, casa noturna no Centro de São Paulo, na noite do dia 11.

Thiago revela que se despediu de Kaique por volta de 6h30 de sábado e viu o garoto ir embora sozinho. “Ele estava feliz, alegre, super sorridente”, recorda. Thiago afirma que Kaique havia consumido bebida alcoólica durante a balada, mas não estava embriagado quando saiu. “Ele tinha bebido, mas estava consciente.” O rapaz rechaça a hipótese de suicídio levantada pela Polícia Civil. “Ele não tinha motivos para isso.”

Um dos responsáveis pelo ato, o funcionário público Gedilson dos Santos Procópio da Silva, de 28 anos, disse que quer que a Secretaria da Segurança Pública (SSP) responda a uma série de questões sobre o caso.

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